Sala

Atirei-me para o sofá, chegando os olhos e abraçando uma das almofadas para fazer mais pressão na minha cabeça.
Estranhei as luzes ainda estarem acesas. Eu tinha dito à Nana para ela ir dormindo.

*Pousei as malas ao pé do sofá e limpei as lágrimas.*

- Vou-me embora, Takumi. - Custava tanto a olhá-lo.

Suspirei. Não tinha paciência para aquilo. Tirei a almofada de cima da cabeça e olhei-a. Só depois reparei nas malas. Não... Ela também não...
- Como assim, "embora"? Onde pensas que vais?

- Para a minha antiga casa, a Nana não se vai importar. Eu não aguento mais... Eu não... - Olhava o chão já a chorar de novo.

- Não aguentas mais o quê? Eu venho para casa sempre que consigo. Ainda ontem anunciei o casamento, o que queres mais?! - levantei logo a voz, cansado daquilo tudo. Porquê tudo no mesmo dia?!? - Queres que pare de trabalhar? É provável que consigas, os Trapnest acabaram!

- Tu nunca cá estás e quando estás é para ir atrás da Reira. Não dá, com ou sem Trapnest não dá mais, Takumi. Eu lamento que tenham acabado mas isso não me pode fazer mudar de ideias, não pode...

- Muito bem... - Acenei uma vez e apoiei para a porta. - Estás à tua vontade. Vai a correr para os braços do Nobu de novo. Mas fica a saber: se ele te der para trás de novo eu não vou estar mais aqui

- Eu não vou correr para os braços de ninguém e vou criar o meu bebé sozinha. - Se o Nobu quisesse ficar comigo já tinha feito alguma coisa mas se até agora não fez nada. Sim, era melhor eu ficar sozinha.

- Faz como quiseres... - Voltei a sentar-me e apoiei a cabeça nas mãos. Estava tudo acabado. Era até ali que o meu sonho ia, não me restava mais nada. E não me restando mais nada... Só podia voltar à estaca zero. Voltaria para Osaka. Abaria de vez com os Trapnest. Não fazia mais sentido continuar. O Ren podia então deixar de discutir com a mulher dele. O Naoki que fizesse o que bem lhe apetece-se. A Reira... A Reira certamente já estava a voltar para a América.
Já haviam passado anos... Mas senti de novo a vontade de poder partir tudo o que tivesse à minha frente

- Talvez um dia entendas... E eu lamento mesmo pelos Trapnest, Sabes que adorava a banda. - Agarrei nas malas e passei por ele mas parei ao lembrar-me que não lhe tinha devolvido o anel. Limpei as lágrimas e pu-lo em cima da mesa da sala.

Não respondi. Nem sequer percebi o que ela disse. A minha cabeça estava a entregar-se ao cansaço de uma semana praticamente seguida de trabalho. Só a apertei mais

*Sai sem dizer nada. Era melhor sair o quanto antes.*


Encerrado

Fiquei a olhar para o telemóvel quando ela mo desligou na cara. As palavras dela ainda ecoavam pela minha cabeça.
I'm still in love with you....
Também eu...
Levantei-me de repente. Estava na altura de lutar por algo que eu sempre tinha tomado por garantido por estar sempre disponível ao estender da minha mão. Telefonei para o aeroporto e marquei tudo. Fiz uma mala básica, pois tinha roupas que tinha lá deixado desde a última tour.
Deixei um bilhete à minha irmã e saí de casa

:: Encerrado