Jardim das Árvores de Sakura

Continuava sentada havia horas intermináveis num dos muros que rodeavam aquele Jardim. Mantinha o Garby sentado do meu lado, por vezes puxando-a para o meu colo, de cada vez que o vento se rebolava um pouco mais sobre si mesmo, para que ele não caísse acidentalmente, por eu não o manter seguro o suficiente do meu lado. Voltava a olhar para o céu, em seguida. O sol ainda se apresentava alto lá em cima, mas já devia estar perto da hora de voltar para casa.
No entanto, nem isso me fez levantar de onde estava. Queria sentir a brisa do ar atravessar-me a pele, uma vez mais. Suspirei, fechando os olhos ao adivinhá-la bastante perto. Os meus cabelos esvoaçaram automaticamente ao seu toque.

Mantive os olhos fechados, continuando a sentir só a leveza e suavidade do vento fraco a percorrer traços do meu rosto. Por incrível que pudesse parecer - e não pelo facto de eu ser incrivelmente distraída - era aquela mesma brisa que costumava levar-me horas fora de casa, preferindo o estar sozinha a apreciar as belezas da Natureza do que passar quanto tempo fosse com os meus.
Pensar neles deu-me, de repente, um aperto grande no peito. Por um qualquer motivo que eu desconhecia por completo, lembrá-los naquele instante, era-me algo doloroso. Corroía. Era como se uma solidão interminável me alcançasse e me prendesse pelos pés e braços, numa tentativa convicta de jamais me deixar sentir liberta, novamente.
Permaneci imóvel, mesmo assim, de olhos fechados, sobre o mesmo muro.

Continuei de olhos fechados apreciando o sabor do vento nos meus cabelos e pele. Só apertei mais o Garby contra o meu peito, deixando-me apenas ficar daquele modo.

Abri os olhos aos poucos procurando o som da voz que falara comigo. Observei o rapaz durante um pouco, acabando por mexer as pernas como uma criança pequena, olhando para o chão a embalar o Garby.
- Olá - sussurrei apenas, timidamente.

- Aa... Estamos... No Jardim onde se realiza o Festival da Primavera, todos os anos - disse apenas, sempre numa voz muito calma, quase angelical. Ia acariciando a lata do Garby, tentando mantê-lo quieto à vista do rapaz.

- H-Hai... - disse só, mantendo o mesmo tom que empregara desde o início para me dirigir a ele. As minhas mãos continuaram firmes no mesmo movimento suave pela lata do Garby sem falar mais do que simples respostas ao que o rapaz perguntava, apenas.

- Não faço ideia... - disse simplesmente, olhando para o chão ainda, acariciando a lata do Garby tanto quanto me era possível para que ele não notasse os seus movimentos ligeiros. A brisa continuava a atravessar-nos, fazendo os meus cabelos esvoaçarem um pouco - Mas talvez devesses tentar continuar a seguir esta estrada...

Parei de repente. De facto... Nem eu mesma me lembrava bem de como havia feito para ir parar naquele lugar. Desde que me lembrava, sempre houvera pertencido ali. Mas... Agora que ele falava nisso...
- Eu... - disse apenas, sem saber que outra resposta dar-lhe - Eu não... Faço ideia...

Encolhi os ombros, numa espécie de atitude de descaso mas olhei-o depois, suspirando antes de o fazer.
- Não me lembro de ver mais pessoas aqui - disse, simplesmente, fixando os olhos nos dele e descobrindo o quanto eles conseguiam ser emersos de profundidade - E, se é um sonho... Eu não faço ideia.

- U-Ushio... - disse só baixinho, mantendo-me sentada na mesma posição, apertando mais o Garby contra o meu peito, como que a protegê-lo.