Saí da piscina logo depois de ter terminado a competição, fechando-me no balneário tempo suficiente para conseguir tomar um banho e mudar de roupa. Algumas coisas não me saíam da cabeça, de entre elas o rosto dele salientava-se no meio da multidão, a encarar-me chocado, após ver-me tirar a touca e os óculos. Eu nem mesmo tinha reparado que ele estava entre o público. Se o soubesse, talvez nunca o tivesse feito daquela forma. Ele ia odiar-me agora, verdade? Ele ia perceber que eu lhe tinha mentido. Não que importasse muito, não era? Afinal... Nós nem sequer nos conhecíamos. Mas isso não impedia que eu não me sentisse mal com aquilo tudo. Talvez porque eu não queria, de todo, que ele me julgasse como uma mentirosa - apesar de, claro, eu lhe ter mentido com todas as letras. Eu não o queria. Nem sei ao certo por que razão tinha inventado tudo aquilo. Seria apenas porque... Eu queria tanto afastá-lo que não suportava a ideia que ele soubesse quem eu era verdadeiramente? Seria porque... As pessoas se afastavam de mim, normalmente, quando percebiam o tipo de rapariga que eu era, porque ninguém no seu perfeito juízo tolerava o meu mau feitio perante uma derrota? Seria porque... Eu sabia que era, de longe, melhor do que ele quando o assunto metia natação? Sim, porque eu era. Era, não era? ... Pouco interessava, na verdade. De qualquer forma, ele devia ter sido apenas mais um rapaz que eu tinha afastado de mim. Não que isso fosse uma má ideia, não era bom que me vissem com tudo o que se pudesse apelidar de "amigos" do sexo masculino. O meu pai, principalmente, iria opôr-se terminantemente a essa ideia. "Competição" e "Romance" não eram palavras que figurassem num mesmo dicionário. Ainda mais sendo este rapaz um bom adversário. Porque, para o meu pai, ninguém podia ser melhor do que eu. Isso, às vezes, irritava-me um pouco. Mas eu já me habituara a também pensar dessa forma. Aos poucos, era como se também eu, com o passar dos anos, passasse a invergar aquela personalidade dominadora dele no que referia àquele tipo de situações. E isso só poderia vir a dar mau resultado no que dizia respeito à minha vida social. Mas isso não era, de facto, importante. Pus o saco ao ombro, depois calçar as botas e apertar o cinto sobre a camisola e a saia. Saí do balneário, percorrendo os corredores devagar.
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Ainda esperava por ela, do lado de fora do complexo das piscinas, de mãos enterradas nos bolsos do equipamento, a cabeça e olhos baixos, fixando o chão. Tinha sido uma surpresa ver quem ela realmente era. Mas talvez... Não tivesse sido o baque que eu imaginara que fosse. Assim que finalmente associei o nome lembrei de onde já a vira antes... Nas revistas de natação que a Gou tinha lá em casa. Sentia-me um parvo por não me ter lembrado disso mais cedo. Agora estava ali à espera dela, não sabia bem porquê. Não sabia o que esperava ouvir, se é que esperava que ela me dissesse alguma coisa. Talvez ela só tivesse mentido para proteger o nome ou assim.... Mas eu queria pelo menos um pedido de desculpa, por ela me ter feito de parvo
Avancei, olhando para o chão sempre, até chegar à entrada principal. Parei assim que o vi ali plantado, limitando-me a fixar os olhos sempre no mesmo ponto, tentando fugir ao contacto com os dele. Bonito serviço... E agora? Que é que eu fazia agora? O que é que dizia? Kuso... Voltei a caminhar em direcção à porta como se nada fosse.
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Virei somente os olhos para ela, quando ouvi a porta finalmente abrir-se. Eu sabia que seria ela, desta vez. O mesmo instinto que trabalhava contra mim e fazia-me prender a minha atenção nela parecia igualmente funcionar quando ela não estava por perto. Fora assim que a reconhecera durante a prova. Olhei-a somente, não dizendo uma palavra, limitando-me a fixar os olhos dela, talvez com um olhar mais acusador do que aquele que pretendia
Limitava-me a fugir aos olhos dele, passando pela sua figura sem sequer parar nem dizer nada. Como se nem sequer o conhecesse. Eu não era capaz de o encarar. Sabia bem que tinha feito asneira e não me sentia bem com isso.
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Só a olhei sempre, acenando só para mim mesmo quando percebi que ela nao iria dizer nada a respeito. Bem, talvez fosse melhor assim mesmo. Somente me desencostei da fachada do complexo, sempre de mãos nos bolsos, caminhando também na direcção da saída. - Dá os parabéns ao teu irmão se puderes... Ele nadou bem hoje... - Disse simplesmente ao passar por ela, dado que a minha passada era bem mais larga.
Parei, olhando sempre para o chão. Apertei mais a alça do saco no ombro, lutando para manter as palavras bem seladas na boca. Simplesmente, não combinava comigo correr atrás de ninguém. Eu era bem mais do que isso. E não ia fazê-lo desta vez, também. Não ia. Por muito que pensar nele mexesse com as minhas entranhas.
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Só fui caminhando devagar, sempre pouco mais que dez metros em frente a ela. Perguntava-me se o pessoal ainda estaria por lá... Talvez conseguisse que o Sousuke quisesse sair com o resto. Bem que estava a precisar de distracção extra. Tentei ligar à Gou para saber se ela estava com eles, mas ninguém atendeu. Bolas... Parei à entrada do portão tentando decidir o que iria fazer: ir procura-los, ir a pé para casa... Em último recurso virar-me para trás e exigir uma explicação...
Continuei a andar atrás dele, tentando sempre aguentar para não olhá-lo. Parei depois, a um canto, perto do muro, à espera que chegasse alguém pra buscar-me. Tentei mandar uma mensagem ao pai, depois. Uma vez mais... Ele não me perdoaria se eu não levasse o troféu do 1º lugar para casa... Mas nem sequer mesmo se dera ao trabalho de vir ver a competição. Suspirei, guardando o telemóvel, desistindo de enviar-lhe o que quer que fosse, voltando a segurar melhor o saco no ombro. Pelo canto do olho, vi-o parado ainda no mesmo local. Desviei os olhos logo, para que ele não percebesse que eu sequer o olhara.
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Reparei nela a parar também à entrada, pelo canto do olho. Talvez fosse melhor eu ir a pé mesmo, não ia ser boa companhia para ninguém. Raramente o era. Assim... Ainda conseguia passar pelo cemitério e mostrar-lhe o troféu que tinha ganho, e as medalhas, e toda a lataria que eu lhe costumava mostrar. Suspirei somente, antes de por as mãos nos bolsos de novo e me afastar
Baixei a cabeça, olhando para ele. Merda, ele nem sequer... Ahh, para que é que eu estava preocupada? Eu só estava a criar atalho para aquilo que eu já sabia que ele faria, um dia mais tarde. Ele também deixaria de me dar atenção, como toda a gente. Também se cansaria de mim. Ahhh, kuso, que raiva! Limpei só os vestígios de lágrimas das bochechas para as impedir de caírem com mais afinco. Vá lá... Que chegue alguém, por favor. Eu... Eu quero ir para casa... Quero ir ver-te, mãe... Por favor...
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Fui só caminhando de cabeça baixa pela estrada, reparando só quando um enorme carro passou por mim, já uns minutos depois, parando depois à entrada do portão, que eu só avistava ao longe. Encolhi os ombros voltando a andar
Entrei no carro mal ele parou à minha frente, fechando as janelas e tudo o que mais me deixasse vê-lo durante mais tempo. Acabou. Mais valia eu esquecer o que sequer me tinha chegado a passar pela cabeça. Encostei a cabeça pra trás no banco, deixando-me chorar sem fazer barulho, todo o caminho até casa.
Encerrado.
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