Florista Yamanaka

Estava a trabalhar há mais de 3 horas. A mãe da Ino tinha tido de sair há coisa de uma hora e pouco e deixara-me sozinha a tratar da loja, o que, como eu já estava bastante habituada, não me fazia grande espécime. Até ao momento, o estabelecimento estava meio deserto, não havia muita clientela, como era normal aliás naquelas tão aborrecidas manhãs de domingo. O final da semana era o dia de estar com a família... Um dos dias de que eu menos gostava, por razões óbvias.
Entreti-me a fazer alguns arranjos para colocar na montra e no balcão da loja, respectivamente, para tentar melhorar as vendas, já que os arranjos prontos tinham muito mais saída do que os ramos encomendados ou as flores soltas. Tinha de estar a fazer alguma coisa, não podia levar o tempo parada, estava farta de me sentir mole assim...
Suspiro..................................................

Entrei na florista, como se fosse a coisa mais normal do mundo que eu pudesse estar a fazer naquele momento. Já a estava a observar há uns minutos, através das montras do estabelecimento, mas naquele momento decidira que só vê-la assim ao de longe não dava para mim. E dado que ela estava sozinha... Bem, iria lançar uma cartada.
Entrei, caminhando depois directo ao balcão, encostando-me ao lado do local onde ela estava a preparar aquele arranjo, não dizendo nada. Observei simplesmente as mãos delicadas dela a trabalhar.

As minhas mãos tremeram mal o vi entrar. Ohhhhh Kami-Sama, que linda altura para me fazeres dar este trambolhão psicológico... A sério que ele tinha que entrar mesmo agora? Aliás... O que estava ele a fazer ali para começar? Raios....
Respirei fundo tentando não parecer muito nervosa, não gaguejar, não corar, não... Não nada!
- Posso ajudar em alguma coisa? - limitei-me a perguntar, nervosa.

Fiquei a olhá-lo muito vermelha, sem saber bem o que dizer.
- Aam... Aa... - afastei-me depois, voltando a atenção às flores - Não percebo o que estás a dizer, eu... S-Sasuke-Kun... - suspirei depois, tentando manter a calma - B-Bem... Suponho que tenhas... Vindo buscar algo para a Hinata ou... Para a Tenten... Ou para a Ino... Para alguma delas, então... Diz, o que queres?

Engoli em seco quando ele não se afastou, fixando o chão. Eu... Nunca sabia bem o que dizer quando ele se tentava aproximar de mim daquela forma. Nunca sabia bem o que fazer quando ele me dizia aquelas coisas. Simplesmente era complicado para mim tentar fugir-lhe quando eu sabia que queria o mesmo que todas as outras: estar com ele.
Ahhhhh, mas eu não ia cair naquela esparrela toda dele, de novo! Já não era a primeira vez que ele se vinha meter comigo, que resolvia vir engatar-me e depois partia pra cima de outra quando eu não lhe dava resposta. Já não era a primeira vez que ele o fazia de propósito à minha frente só para ver a minha reacção, só para me deixar a arder de ciúmes. E, sinceramente, isso começava a magoar-me. Demais. Mesmo.
- Eu estou a trabalhar, Sasuke-Kun... - ainda tentei, novamente.

Olhei-o, parando o que estava a fazer, engolindo em seco por momentos, sem saber bem o que dizer nem como agir seguidamente àquele comentário. Era tão... Estúpido como ele conseguia mexer comigo daquela forma... E ainda mais estúpido era eu ter tanta vontade de ceder por completo a tudo.
- É... É mesmo melhor parares com isto... - pedi novamente, desviando o olhar mais uma vez, pegando nos arranjos de flores que tinha em cima do balcão já prontos e levando-os lá para dentro, mesmo a tentar fugir dele.

Suspirei, deixando-me ficar de costas para ele, olhando para o chão dessa vez, depois de pousar todos os arranjos em cima da mesinha. Ele não percebia que... Eu não queria ser igual a elas? Ser mais uma? Porque é que ele... Para que é que ele fazia questão de que eu o visse com outras raparigas e depois vinha a correr atrás de mim? Para quê? Elas não lhe chegavam?
- Porque eu... - encolhi os ombros, baixando o tom depois, sentindo praticamente a garganta queimar ao deixar-me proferir em voz alta as palavras seguintes - ... Porque esperar por ti, é a mesma coisa que estar sozinha. Porque viver na ilusão de um amor é pior do que aceitar a realidade da solidão em que se vive - Talvez aquilo soasse a algo demasiado romântico para a tenra compreensão dele acerca dos verdadeiros sentimentos das pessoas mas...

Levantei os olhos para os dele, encarando-o no entanto sempre com a mesma expressão cabisbaixa. Pesei qualquer uma das palavras dele antes de suspirar e dirigir-me à sua figura. Não disse nada. Só escondi a cara no seu peito. Eu já não estava magoada. Já não estava triste. Eu só... Só desejava... Que ele me visse de forma diferente, no fim de contas. E ele não via. Por muito que dissesse o contrário. Eu aprendera a desconfiar disso porque... Nunca o vira agir de forma diferente desde que me lembrava. Em criança, talvez ele não fosse de andar agarrado a qualquer menina mas... Agora era. E magoava-me. Doía. Não provava que ele me visse como alguém especial, pelo contrário. Não provava que ele me quisesse por perto porque... Se ele tinha todas elas, para que me quereria a mim também? No que é que a minha presença iria diferenciar as coisas? Não apagava aquela solidão do meu peito quando isso era a única coisa que eu desejava que fosse ele a ajudar a curar. Não sarava qualquer uma das minhas feridas. Não nada.

Suspirei, deixando que ele me abraçasse sem dizer nem uma palavra, ponderando apenas em todas as dele, sem discutir mais. Até porque não valia a pena, ele sabia bem demais o que eu sentia, eu já me tinha encarregue de ser idiota o suficiente para lho mostrar.
Abracei-o de volta, também.