Piscinas Municipais

Quase cambaleei quando o vi ali de novo, bem à minha frente. Olhei-o apenas. A minha boca queria dizer algo, mas a garganta tapava-se para não deixar sair as palavras que ela desejava mencionar. A minha razão dizia-me para desviar os olhos da direção dele, mas eles recusavam-se a fazê-lo, a mudar de direcção. Eu estava decididamente a sentir algo por aquele rapaz. Algo que não devia, para piorar as coisas.

Abri a boca mesmo a querer falar mas baixando logo a cabeça em seguida. Não. Eu não ia dizer nada. Além disso, se tentasse falar, ia-me sair o quê? Eu não era o tipo de rapariga que se atirava assim de cabeça para ninguém, ainda mais quando se tratava de uma pessoa que eu devia ignorar, naquele momento. Eu nem mesmo era o género de miúda que tinha quedinhas daquelas por rapaz nenhum, porque "o romance desviava-nos a cabeça dos nossos verdadeiros objectivos". Eu nem sequer devia deixar que aquele tipo de coisas me passasse pela ideia, quanto mais! Eu devia era estar louca, isso sim.
Optei por ficar calada, limitando-me a encarar o chão.

Olhei-o simplesmente depois, confusa. Ele... Estava a sugerir, de facto, alguma coisa, certo? Esperar por ele e depois sairmos dali os dois? Os dois?? Tipo... Tipo, juntos ou...? Senti as bochechas avermelharem, desviando os olhos dos dele logo em seguida. Não. De todo. Ele... Devia ser confusão minha. Ou isso ou ele era do género de se atirar à primeira miúda que lhe aparecesse e não me parecia ser esse o caso. Não. Seguramente, eu é que estava a ver coisas onde elas não existiam, de todo.
Suspirei. De qualquer forma... Eu queria saber o que ele tencionava dizer com aquilo, não queria? Sim, eu queria, mesmo. Mas... E se eu descobrisse que não estava lá muito preparada para a resposta dele?? Ohh, céus, eu não me ia armar em convencida naquele momento, pois não? Isso nem sequer combinava comigo. "O romance é para as raparigas tolas, a Izumi tem um futuro brilhante com que se preocupar, nesta etapa da sua juventude." O papa dizia sempre isto... Era isso mesmo que eu tinha de fazer, verdade? Era no Campeonato no qual eu ia participar que eu tinha que me concentrar, certo? Mas... Eu queria mesmo saber...
- C-Como assim?
... O que ele queria dizer com aquela sugestão. Embora me soasse que os meus membros não o desejavam assim tanto, a julgar pela forma como tremelicavam.

Engoli em seco, olhando depois para o chão. Fugir também não fazia parte da minha personalidade mas... Kuso... Eu devia, obviamente, fugir daquela ideia estapafúrdia dele de passarmos nem que fossem apenas mais 2 minutos na companhia um do outro. Seguramente, eu não me lembrava de o ver a nadar sem ser naquele dia. No entanto, já me apercebera de que o conhecia de vista, das vezes em que costumava ir até ali, ao certo devíamos ter-nos cruzado nos corredores ali do Pavilhão, ou alguma coisa do género. Mas... E se ele, de facto, me conhecesse das competições? E se, ao contrário daquilo que eu queria, ele se lembrasse de ter visto alguma prova minha, ou algo assim? Isso não deitaria por terra as minhas convicções de manter a minha identidade em segredo?
- Deves... - suspirei, pegando na mesma história fictícia que iniciara para explicar a minha estadia na piscina, da primeira vez que ele me havia questionado sobre tal - ... Ter-me visto durante alguma corrida do meu irmão ou assim... Eu... Costumo estar nas bancadas a assistir quando ele nada.
Vá... Vá, morde a isca... Caramba, ele não podia perceber que eu era a Campeã Feminina! Não podia! Ele não ia ver-me da mesma forma! Não que isso me devesse interessar assim tanto mas... Eu não queria que ele olhasse para mim de outra forma que não aquela. Não... Não queria.

- S-Sim... - disse simplesmente, olhando sempre em outra direcção que não fossem os olhos dele, tentando abstrair-me ao máximo e fugir ao contacto com eles o mais possível, tentando manter a farsa. Eu não podia mostrar qualquer tipo de interesse. Aliás... Eu não tinha, seguramente, qualquer tipo de interesse nele. Eu? Nele? Porque é que deveria? Nós nem mesmo nos conhecíamos, logo...

Suspirei, cruzando os braços, olhando-o um bocado, confusa.
- Que tipo? - perguntei, simplesmente, sem dar muito mais confianças.

Virei-lhe simplesmente as costas, abanando a cabeça, mantendo o ar mais arrogante que consegui no rosto, antes de ir em direção aos balneários. De facto... Ele não devia muito ao convencimento. Rapazes daqueles deviam ser abolidos. Idiota. Ele achava-se um bocadinho de mais, não? E pensar que... Que eu quase me tinha posto com ideias por causa daquele narcisista de meia tigela... Santo Kami-Sama dos desportistas...