Quarto do Levi

Abri a porta com o pé, fazendo-a bater com estrondo para trás, resmungando entredentes enquanto atirava a roupa que trazia nos braços para o cesto da que já tinha separado para lavar.
Quase tive uma sincope ao ver as marcas de lama que me seguiam até ao quarto e faziam eco de todos os meus passos. Claro... Se eu tinha caído na lama era normal que estivesse assim mas... Eu tinha limpo o quarto antes de jantar...
Merda...
Continuei a resmungar entre dentes, sempre para mim mesmo.

Tirei apenas a camisola de cavas que ficara presa ao meu corpo pela chuva e pelo suor, cilindrando pelo quarto sempre a resmungar entre os dentes. Abri um dos armários tirando duas toalhas, sendo que uma pus sob o meu ombro e a outra atirei para cima da cabeça dela. Sabia que os recursos para os recrutas eram limitados e que eles já tinham muita sorte em ter uma simples cama com uma almofada e um cobertor. Eu já passara por isso. Sabia bem que certas regalias não lhes estavam disponíveis.
- Fica à vontade. Se precisares de tomar banho é na porta ao lado do armário... - Disse enquanto ia para trás do biombo e tirava a parte de baixo, não deixando a roupa toralmente imunda cair ao chão.

- Precisas que te vá buscar alguma muda de roupa ao teu quarto? - perguntei, com a maior naturalidade do mundo, saindo do biombo e atirando as minhas roupas para a cesta, estendendo depois as mãos para a roupa dela. Não hvia necessidade de ficar a admirar o corpo dela, pelo menos não mais do que eu já havia feito antes de sair de trás do biombo, altura em que reparara que ela se começara a despir. Abri o armário com um barulho desnecessário, procurando depois uma das minhas camisas, estendo-a na direcção dela. - Veste isto enquanto não tens mais nada...

O olhar, a respiração e os pequenos gestos dela não me passaram minimamente despercebidos. Jamais haviam passado, desde aquele primeiro dia. Havia algo nela... E não era o ela ser parecida com a Isabel. Porque eu nunca tinha sentido aquele tipo de coisas pela Isabel, não como sentia em relação a ela. Eu era tão mais desperto para a presença dela do que para qualquer outra pessoal. E o facto de a ter ali, sozinha comigo, fazia-me estar ainda mais consciente, apesar de o meu corpo ter mergulhado numa letargia ao ponto de eu não o sentir.
De não sentir quando avancei mais na direção dela, deixando simplesmente a camisa que lhe estendia me escorregar pelas mãos até ao chão.

Depressa lhe descobri os locais mais sensíveis. Não que eu não soubesse a anatomia de uma mulher, eram-me evidentes quais os locais onde seria impossível tocar sem ela se sentir provocada. Mas eu queria saber os outros. Queria saber que os beijos pelo pescoço a deixava arrepiada. Os beijos na barriga faziam-na contorcer-se num misto de cócegas e desejo, tentando que eu meramente me chegasse um tudo nada mais abaixo. Coisa que fiz. Vezes sem conta até ela ficar satisfeita, até os dedos dela me soltarem o cabelo, dando-me liberdade para vaguear de novo pelo seu corpo.
Via muitas marcas leves na pele dela. Algumas delas eu sabia em que situações haviam sido feitas, tendo sido causadas por mim ou por qualquer outro instrutor. Beijei-lhe cada uma como que pedindo desculpa ao mesmo tempo que a avisava que novas poderiam surgir. Mas não graves... Não como as minhas. Eu nunca deixaria que isso acontecesse. Não desta vez.
Não com ela.
Já me tinham tirado tanto...
Pelo menos não me tirem ela.

A madeira da cama estalava em nosso redor, ameaçando ceder a cada estocada mais forte que eu dava dentro dela, prestes a levar-nos aos dois à loucura. O meu corpo encaixava no dela na perfeição, sem parecer ser necessário qualquer esforço, como se tivesse mesmo sido feito para isso. Como se ela tivesse sido feita para ser minha e eu dela. Era isso que eu confirmava a cada movimento, a cada gemido deliciado dela, a cada cravar das unhas dela pelas minhas costas, que me deixavam a pele a arder...
Decorreu muito tempo até nos conseguirmos acalmar e parar de nos termos um ao outro daquela forma. Mas quando tudo acabou não nos separamos. Não houve mais uma vez necessidade de palavras. Apenas a sentia tremer contra o meu peito, o corpo ainda com pequenos espasmos, a respiração ainda ofegante. Não muito diferente dela, ainda tive forças para puxar os lençois e os cobertores para cima de nós.

Pontualmente, os meus olhos abriram-se novamente às 5h da manhã. Ainda chovia lá fora mas apesar disso eu já ouvia os passos agitados e o barulho chapinhado das botas a correrem pela lama, bem como as ordens meio gritadas. Os primeiros pelotões já estavam a pé. Soergui-me aos pouco, tentando não acorda-la à medida que a fazia desprender-se de mim. Tomei um longo banho, deixando a água fria ficar a cair-me na nuca durante largos minutos. Vesti-me no final, farda completa como sempre... Para somente me sentar no sofá, pernas e braços traçados, decorando-lhe cada linha do rosto, esperando que ela acordasse.

Recebi o olhar dela no meu, encarando-a com naturalidade, deixando depois os meus olhos tentarem descobrir as zonas do corpo dela que haviam ficado mais descobertas após tanto movimento. A postura, a respiração, o olhar dela... Diziam-me tudo. Ela estava assustada. Talvez até nem tivesse completa consciência do que acontecera ali. Sinceramente, acho que nem eu tinha. Pelo menos naquele espaço de tempo em que eu estivera junto ao armário e viera ter com ela. Do resto eu tinha completa certeza do que acontecera e marcas para o comprovar, dado que ela me deixara as costas cravadas de marcas vermelho sangue. Cada uma corresponderia as dedos dela. Bem como cada marca dela corresponderia à minha boca e às minhas próprias mãos.

Suspirei, levando-me aos poucos, voltando uma vez mais a ir ao meu armário, tirando tudo o que ela precisava para se aprontar. Era o bom de ali não haver distinção de sexos, todos nos vestiamos de igual.
- Não sei se queres falar ou não. Por isso mais vale despachares-te. Podes tomar banho à tua vontade, ainda sobrou água quente. O alinhamento é às 6h. Demora o tempo que precisares. - Olhei-a novamente, atirando a camisa para cima da cabeça dela para lhe esconder a expressão de vergonha e embaraço com que ela estava. - Vou à procura de algo para comer, depois volto.

Parei à saída do quarto, olhando admirado para trás. Caminhei de novo em direcção à cama, sentando-me no colchão ao lado dela, puxando a minha camisa para baixo para lhe conseguir ver o rosto como deve ser. Rosto esse que segurei sobre a minha mão, fazendo-a olhar bem para mim nos olhos.
- Desculpa exatamente pelo quê?

- Isso quer dizer que estás arrependida Petra? - Perguntei, num repente. Apesar do nome dela agora me fluir tão naturalmente aos lábios, devido a ter sido tantas vezes repetido durante a noite, a minha voz estava dura como de costume após aquele pedido de desculpas dela. Eu tinha sido o quê? Um erro? Era isto que eu ganhava por mostrar que afinal conseguia ser um pouco humano e dar-me normalmente com uma pessoa, para além de andar a gritar obscinidades e a ladrar ordens?! Cerrei os dentes, mordendo as bochechas por dentro para não deixar aqueles pensamentos tornarem-se audíveis.